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Pesca e Aquicultura: aumenta o mercado de peixes nativos do Brasil

Investir em peixes nativos pode ser um excelente negócio. Esse mercado cresce a taxas bem superiores ao da tilápia, o que mostra que o peixe nativo já caiu no gosto do brasileiro. A afirmação é do Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pesca e Aquicultura, Alexandre A. Freitas. Segundo ele, enquanto o mercado de tilápia cresce a uma taxa de 17% ao ano, o de alguns peixes nativos como o Pirarucu cresce a 25% ao ano.

“Mas é preciso admitir que o mercado persegue algo similar à tilápia (filé porção sem espinhas). Isso significa que teremos que evoluir no sistema de produção para que as espécies nativas ofereçam essas mesmas possibilidades”, afirma Alexandre.

O pesquisador da Embrapa participou do Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial: espécies nativas, ocorrido nos dias 21 e 22 de setembro em Campinas (SP). No painel “Pesquisa, conhecimentos e tecnologias da Embrapa em peixes nativos da Amazônia”, Alexandre falou de tecnologia e também deu um panorama do mercado consumidor de peixes no Brasil.

Segundo ele, o que se verifica nas gôndolas dos supermercados é que a maioria dos pescados é vendida no formato de filé em posta. “O consumidor quer praticidade”, diz. Além disso, uma pesquisa do IBGE realizada em 2010 mostrou que 55% do consumo de peixes é feito fora das residências. “Talvez o grande mercado para o peixe nativo não seja o doméstico, mas o mercado gourmet”, constata o pesquisador.

Além do uso de espécies nativas no mercado gourmet, outras tendências apontadas por Alexandre são o uso de peixes nativos pela gastronomia asiática, como os restaurantes especializados em comida japonesa, e a busca por novos produtos e cortes diferenciados.

Políticas públicas e tecnologia são necessárias para melhorar a piscicultura nativa, diz representante da Peixe BR

Criar políticas públicas específicas para o setor da piscicultura e investir em tecnologia são algumas das demandas elencadas por Francisco Medeiros, Secretário Executivo da Associação Brasileira da Piscicultura – Peixe BR, para aprimorar o nicho de piscicultura nativa no Brasil. No dia 22 de setembro, ele proferiu a palestra “Mercado de peixes nativos do Brasil: atualidades e tendências”.

“O setor de peixes nativos está crescendo, mas ainda é muito disperso e sem logística”, afirmou. “Sabemos que 80% da produção de peixes nativos ainda é vendida do mesmo jeito que após o descobrimento do Brasil, ou seja, não tivemos evolução no processamento do peixe in natura”, disse Francisco.

Dados da Peixe BR mostram que, das 638 mil toneladas de peixes produzidos anualmente no Brasil, 300 mil são de tilápia e o restante de peixes nativos. A atividade movimenta cerca de R$ 4 bilhões/ano, gera 1 milhão de empregos diretos e indiretos e cresce a taxas superiores a 10% ao ano.

Apesar da grande oferta de nativos, o consumo de peixe importado no Brasil é de 2kg/habitante/ano, enquanto que o de espécies nativas é de apenas 1,69 kg/habitante/ano. “O nosso consumo de peixe nativo ainda é muito baixo”, afirma Francisco.

Ele entende que há potencial para os peixes nativos, mas o setor perde em competitividade por não atender as demandas do mercado. Entre as demandas está a produção de um peixe sem a chamada “espinha em Y” e a venda do pescado em filé, e não o peixe inteiro. “Não tivemos até hoje nenhuma iniciativa brasileira para resolver o problema da espinha do peixe”, reclama.

Além de melhorar o aspecto tecnológico e de mercado, Francisco também acredita que é preciso criar hábito e memória afetiva para os peixes nativos. Dourado, Pacu , Pirarucu, Surubim e Tambaqui são apenas alguns exemplos da grande diversidade de peixes nativos disponível no mercado.

“Temos que ter um produto que atenda a nossa população, um peixe que seja acessível a quem não tem condição de comprar peixe”, diz. “O que fazemos com peixes nativos no Brasil é um milagre; não há exemplos de desempenho econômico igual”, conclui.

Grupo Bom Futuro Piscicultura produz duas mil toneladas de peixes nativos por ano

A pequena cidade de Campo Verde (MT), localizada próximo à Chapada dos Guimarães, poderá muito em breve ser conhecida com a capital do Tambaqui ou do Pintado. É lá que o grupo Bom Futuro Piscicultura mantém uma das três maiores criações de peixes nativos da Bacia Amazônia no Estado, com 250 hectares de lâminas d’água dedicadas à produção de Tambaqui e seus híbridos, Piau e Pintado.

O grupo produz mais de duas mil toneladas de peixes nativos por ano e o que antes era apenas uma alternativa para a diversificação dos negócios, cujo foco é a produção commodities agrícolas, gado e energia, conquistou aos poucos um lugar especial no grupo.

“Apesar de representar apenas 1% do faturamento total, acreditamos muito no potencial aquícola nacional”, afirma Jules Bortoli, diretor de marketing do Bom Futuro. Ele foi um dos convidados do Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial: espécies nativas, e apresentou o estudo de caso “Bom Futuro: uma experiência da indústria frigorífica com peixes nativos do Brasil”.

O grupo espera que, em dez anos, os atuais 1% de faturamento se transformem em 10% do total do negócio. Para isso, investe em tecnologia de ponta para melhorar a produção de peixes, como uma máquina importada do Chile que suga os peixes do tanque direto para o armazenamento, a chamada “despesca”, e equipamentos que separam os animais por tamanho, espécie ou peso.

O alto grau de mecanização inclui ainda uma fábrica de ração para peixes capaz de produzir 6 toneladas por hora. “Cerca de 70% do custo do peixe é a ração”, explica Jules, justificando o alto investimento realizado na fábrica (cerca de R$ 3 milhões). Outros R$ 2 milhões foram investidos em um frigorífico com capacidade para abater 10 toneladas de peixe por dia. “Tudo isso nos ajudará a diminuir o custo de produção, mas é preciso lembrar que só fizemos esse investimento porque acreditamos no potencial do peixe nativo”, justifica o gerente de marketing.

Como gargalos para o aumento do consumo de espécies de peixe nativas, ele cita a famosa “espinha em Y”, as dificuldades no preparo, o consumo regionalizado (principalmente no Centro-Oeste e Norte do País) e entraves na legislação relacionados ao licenciamento ambiental.

Fonte: Embrapa, 26/09/2016

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