sexta-feira , 29 março 2024
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Vertical farming

Fazendas verticais: oportunidade ou ilusão?

por Elio Palumbieri.

O debate em torno das práticas das fazendas verticais (“vertical farming”) encontra-se muito candente e sobram posicionamentos, mesmo que precipitados, a favor ou contra. Como sempre, sem a pretensão de manifestar qualquer juízo de mérito, mas na tentativa de estimular o debate acerca do tema, busca-se no presente artigo esclarecer conceitos e circunstâncias.

Nas reflexões com empreendedores, startups e investidores o tema recorrente é o mesmo: as tecnologias subjacentes ao cultivo sem solo constituem realmente o futuro da produção agroalimentar mundial ou são apenas uma ilusão, uma representação equivocada do futuro?

O que são as fazendas verticais ou “vertical farming”?

Partimos do início. Por “vertical farming” se pretende identificar os tipos de cultivo sem solo desenvolvidos em ambiente fechados, verticalmente dispostos e sob a gestão e controle de sistemas automatizados. Os métodos de cultivo desse tipo de cultivo são classificados, de acordo com as características, como hidropônico, aquapônico ou aeropônico.

Fazendas verticais – por quê?

As razões por trás da ideia das fazendas verticais são as mais diversas. Em primeiro lugar, porém, emerge naturalmente da necessidade de satisfazer uma procura crescente de produtos alimentares e, também à luz dos últimos dois anos, isso se revelou insustentável. Basta pensar no “Earth Overshoot Day” (“Dia da Sobrecarga da Terra”) ou, ainda, nas dificuldades de obtenção de matérias-primas.

Não apenas uma resposta à demanda por alimentos. O cultivo sem solo também pode representar uma resposta à sustentabilidade ambiental e econômica do produto alimentar. Possuir instalações semelhantes nos centros das cidades – ou próximos deles – poderiam diminuir a necessidade de transporte e, portanto, poluir menos, baixar os preços e oferecer oportunidades de trabalho nos grandes centros urbanos. Tudo isso sem trazer riscos de erosão ao solo.

A cultivação hidropônica

A cultivação hidropônica, que é uma das possíveis alternativas para as fazendas verticais, caracteriza-se pela ausência de solo e sua substituição por um substrato inerte irrigado com uma solução altamente nutritiva para as plantas. As plantas, portanto, nesse caso, são imersas em água da qual extraem os nutrientes.

A cultivação Aquapônica

O cultivo aquapônico ou aquaponia é uma modalidade que proporciona, ao mesmo tempo, um sistema de cultivo hidropônico e um sistema de criação de peixes (aquicultura). Basicamente, o cultivo hidropônico também ocorre por meio da exploração da água da aquicultura, rica em substâncias residuais de peixes. Essa água nutre as plantas que absordem os nutrientes e os filtram e, por fim, voltam a entrar nos tanques de aquicultura para reiniciar o ciclo.

A cultivação aeropônica

O cultivo aeropônico ocorre em uma estufa. As plantas ficam suspensas no ar e os nutrientes são pulverizados diretamente nas raízes através de uma solução aquosa enriquecida com fertilizantes e nutrientes. As plantas, em ambiente fechado e controlado, nunca ficam expostas a poluentes ou ervas daninhas, eliminando a necessidade do uso de defensivos agrícolas.

Fazendas verticais e certificação orgânica, a situação na Europa…

Agora, certamente vem a pergunta se esses sistemas, além de serem muito eficientes no papel, seriam capazes de representar o futuro da agricultura sustentável. A resposta não é óbvia.

De fato, existem muitas vozes que gostariam de frear ou, pelo menos, controlar os métodos mencionados. São discursos apresentados em prol da proteção da agricultura tradicional e de todos os operadores do setor.

Tais vozes, além disso, encontraram explicito acolhimento em algumas normas. O Regulamento (CE) nº 834/2007 disciplina a agricultura orgânica e, por exemplo, em seus dispositivos especifica que:

Uma vez que a produção orgânica de plantas é baseada no princípio de que as plantas devem ser nutridas principalmente através do solo e no ecossistema do solo, as plantas devem ser produzidas sobre e no solo vivo, em associação com o subsolo e substrato rochoso. Consequentemente, nem a produção hidropônica nem o cultivo de hortaliças em recipientes, sacos ou canteiros onde as raízes não estão em contato com o solo vivo devem ser permitidos.

Ainda, o novo Regulamento (UE) nº  2018/848 evidencia que:

É proibida a produção hidropônica, vale dizer um método de cultivação dos vegetais que não crescem naturalmente na água consistente na colocação das raízes apenas em uma solução de elementos nutritivos ou em um meio inerente ao qual se acrescenta uma solução de nutrientes.

As normas são claras, de certa forma compreensíveis, e proíbem a obtenção da certificação orgânica para a agricultura hidropônica e outras culturas sem solo.

… e nos Estados Unidos

Da mesma forma, nos Estados Unidos a certificação orgânica está sujeita ã condição de garantir, dentre outras coisas, a saúde do solo e o aumento das propriedades biológicas, físicas e químicas do solo. O Departamento de Agricultura dos EUA, no entanto, confirmou a possibilidade de obtenção da certificação orgânica para os cultivos hidropônicos.

Conclusões

As perspectivas para os métodos de cultivação sem solo são extremamente variáveis e, no momento, não é simples definir um caminho seguro, principalmente em razão da sua oposição, que também é cultural, seja ela certa ou errada.

(*Artigo originalmente publicado em língua italiana, na data  de 21/04/2022, sob o título Vertical farming, opportunità o ilusione?. As imagens são as mesmas utilizadas pelo autor na publicação original. Tradução de Albenir Querubini)

Elio Palumbieri – Advogado italiano com atuação especializada em Direito Agroalimentar, integrante do escritório SAFEGrenn (www.safegreen.it). Presidente da Escola de Alta Formação Agroalimentar de Bari. Website: https://eliopalumbieri.it

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