A área plantada de uvas no Rio Grande do Sul quase dobrou de tamanho em um período de 20 anos. Foi o que mostrou a mais recente edição do Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul 2013-2015. A viticultura já está presente em 27 das 35 microrregiões gaúchas e ocupa uma área de aproximadamente 40 mil hectares de vinhedos, de acordo com dados registrados em 2015, quase o dobro em comparação aos pouco mais de 21,5 mil hectares que eram plantados em 1995, quando a cultura estava presente em apenas 11 microrregiões gaúchas.
A mais tradicional região produtora de uvas e vinhos do Brasil, a Serra Gaúcha, está reduzindo sua supremacia na produção de uvas em função da expansão da cultura em outras regiões. A Microrregião (MR) Caxias do Sul, que contempla 19 municípios na Serra Gaúcha, era detentora de 90,08% da área vitícola do estado entre os anos de 1996 e 2000. De acordo com os dados do novo Cadastro Vitícola, a região ainda permanece em primeiro lugar, mas sua área plantada corresponde a 80,09% da produção do estado.
Apresentado na manhã do dia 24 de abril, a nova edição do Cadastro Vitícola, base de dados sobre a produção de uvas no Rio Grande do Sul, também indica que a viticultura está aumentando em regiões mais planas, nas quais é possível a mecanização do cultivo. “A viticultura da Serra Gaúcha é essencialmente baseada na agricultura familiar, com uma média de área das propriedades de 2,81 ha. Agora, com o avanço do plantio na Campanha Gaúcha, por exemplo, as propriedades possuem maior área de produção, variando de 95 ha até 564 ha ”, destaca a pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, Loiva Maria Ribeiro de Mello, que coordena o Cadastro Vitícola. Outro ponto interessante é que nessa região estão sendo cultivadas uvas para elaboração de vinhos finos, com maior valor agregado, e que os produtores já estão se organizando para buscar a certificação de seus vinhos com a Indicação de Procedência Campanha Gaúcha.
Único estado que possui esse tipo de cadastro, o Rio Grande do Sul responde pelo cultivo de 138 variedades de uva, entre Vitis vinifera, destinadas para a produção de vinhos finos, e uvas americanas e híbridas, destinadas à produção de vinho de mesa e sucos. Destas, 30 são responsáveis por 95% da área total de cultivo e duas delas, ‘Isabel’ e ‘Bordô’, representam 49,19% da área do estado.
Se for considerada a renovação ou a expansão de áreas, obtidas de plantas jovens, com até três anos de idade, a grande aposta dos produtores continua sendo as uvas para suco e para a elaboração de espumante, produtos que são reconhecidos por sua qualidade e conquistaram espaço no mercado consumidor.
Entre as cultivares para suco, destaque para o grande avanço das cultivares ‘Bordô’ e ‘BRS Violeta‘, esta desenvolvida por pesquisas da Embrapa. “Elas são uvas bastante produtivas e possuem uma cor violácea intensa, que conferem ao suco essa tonalidade, bastante apreciada pelos consumidores”, avalia Loiva.
Lançada em 2006, a ‘BRS Violeta’ saltou de uma área de nove hectares, em 2007, para 240 ha, em 2015. “Além da elevada capacidade corante, a cultivar possui altos índices de açúcar e de compostos relacionados à saúde, características que fazem toda a diferença para qualificar o suco”, avalia Patrícia Ritschel, uma das coordenadoras do Programa de Melhoramento Genético Uvas do Brasil, conduzido pela Embrapa Uva e Vinho, que desenvolveu a uva. Ela reforça que a ‘BRS Violeta’ é recomendada para cortes de sucos de outras variedades, melhorando a cor e a estrutura do produto final.
Outras cultivares desenvolvidas pela Embrapa para elaboração de suco, como a ‘BRS Carmem‘, ‘BRS Cora‘, ‘BRS Magna‘ e ‘BRS Rúbea’ também apresentaram aumento nas suas áreas. “Elas estão sendo utilizadas para qualificar e agregar características diferenciadas aos sucos elaborados com outras cultivares, como a Isabel, por exemplo”, complementa.
Antecipar tendências
Para o chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Zanus, o Cadastro Vitícola é uma importante ferramenta para observação da dinâmica quantitativa e do quadro varietal, decorrente das modificações dos mercados, cada vez mais dinâmicos. “A fruticultura é diferente das culturas anuais, as mudanças são mais lentas, mas também ocorrem. O cadastro permite identificar alterações importantes e subsidiar políticas públicas e as estratégias das empresas privadas. Por exemplo, em função do consumo e com base na avaliação da produção atual, podemos planejar e evitar excedentes de uva para produção de suco ou mesmo antever a falta de uvas para atender o crescente mercado dos espumantes e vinhos finos tintos”, avalia Zanus. Ele complementa que o cadastro é um termômetro do que está sendo demandado pelo mercado e que pode servir como objetivo para planejar a produção a longo prazo.
“O cadastro é fundamental para uma visão macro da produção de uvas no estado, a fim de que as estratégias e políticas setoriais sejam assertivas. Essa realidade precisa ser monitorada permanentemente”, sinaliza o presidente do Ibravin, Dirceu Scottá. O dirigente também reforça a importância de implantação dessa ferramenta em todos os estados produtores de uva. No Rio Grande do Sul, o levantamento de dados que alimentam o cadastro tem sido feito desde 1995.
Duas décadas de observação
A base de dados do Cadastro Vitícola começou a ser construída em 1995, com o levantamento da área dos vinhedos medidas com trena. De declaração obrigatória anual para todos os produtores de uva para consumo in natura ou elaboração de produtos, segundo a Lei 7.678/1988, o cadastro é responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Após o recebimento dos dados dos produtores, de forma presencial ou on-line, eles são conferidos e processados e passam a compor a base oficial do Cadastro. A partir dessas informações, é possível realizar o ordenamento da cadeia produtiva, fiscalização e controle da atividade, possibilitando acompanhar a dinâmica territorial da produção de uvas no estado no Rio Grande do Sul.
Com o passar do tempo, o Cadastro foi se modernizando e, desde 2005, diversas áreas já foram georreferenciadas. Para realizar o georreferenciamento dos vinhedos, foi desenvolvido um software específico, o MapaGPS, disponível gratuitamente e que pode ser utilizado para outras culturas. Nesse processo, as regiões que já possuem ou querem conquistar a Indicação de Procedência foram priorizadas.
Um mapa para a viticultura nacional
Essa tecnologia aporta uma maior precisão no mapeamento da produção e permite o cruzamento, em imagens digitais, de outras informações, como mapas de clima, solo, relevo e da paisagem. “Esse trabalho permitiu criar uma nova referência para os observatórios da agricultura brasileira, em um nível inédito de detalhamento. Com certeza, somos uma das poucas cadeias produtivas com dados tão detalhados, tanto que estamos servindo de referência para estabelecer o Cadastro Vitícola Nacional, que deverá entrar em operação em 2018”, comenta Zanus.
A primeira versão publicada em 1996 estava disponível em disquetes. O formato atual, disponível para consultas online, permite que o usuário utilize diferentes filtros e faça buscas personalizadas, por regiões, municípios, cultivares, sistemas de condução, anos de plantio, dentre outros. Os dados podem ser visualizados na tela, impressos ou exportados na forma de uma planilha eletrônica.
O Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul tem 22 anos de contribuições ao setor vitivinícola nacional, resultado de uma ação coordenada entre as esferas federal e estadual representadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Embrapa, Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul e Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
Fonte: Embrapa, 25/04/2017.
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